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domingo, 29 de janeiro de 2012

Pesquisa mostra que caminhar é o exercício preferido dos brasileiros que se exercitam regularmente, mas sedentarismo ainda atinge 40% da população.

MARIA CECILIA Vaz, que tem hérnia de disco, é orientada pelo professor Júnior Carvalho, no The Pilates Studio: desde que começou os exercícios, ela não sente mais dores Carlos Ivan

RIO - Beneficiados, por um lado, pelas belezas naturais dos quatro cantos do país, e, prejudicados, por outro, pela falta de equipamentos públicos que favoreçam a prática esportiva, os brasileiros elegem como sua atividade física preferida a caminhada, revelou uma pesquisa feita pela Proteste, entidade de defesa do consumidor. O dado mais impressionante, porém, é o índice ainda muito alto de sedentarismo: cerca de 40% dos brasileiros não se exercitam, embora a maioria saiba que deveria fazê-lo a fim de prevenir doenças. Outros estudos trazem dados ainda mais preocupantes: um deles, feito pelo InCor, de São Paulo, sustenta que o índice de sedentarismo chega a 70%. E a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD), feita em 2008 e publicada em 2010, concluiu que um em cada cinco brasileiros é pouco ativo. A disparidade entre os números dos estudos se deve à dificuldade de definir o que é sedentarismo. Afora a discussão teórica, importante mesmo, dizem os especialistas, é manter-se ativo. Para quem não gosta de exercícios formais, vale gastar energia levando o cachorro para passear, seguir caminhando ou pedalando para seus compromissos e até arrumar a casa.

— Este tipo de atividade não torna ninguém um atleta, mas gastar de 300 a 400 quilocalorias por dia já é capaz de trazer benefícios para a saúde — observa o professor Walace Monteiro, pesquisador do Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde da Uerj. — E é bom lembrar que exercício não é vacina: se você para de fazer, cessa o efeito de proteção ao organismo.

Infográfico mostra o mapa do sedentarismo no Brasil

A pesquisa da Proteste teve a parceria de entidades de consumidores da Itália e da Espanha e considerou inativos os entrevistados que faziam menos de uma hora de caminhada por semana. Ouviu cerca de sete mil pessoas, nos três países. Aqui, foram 1.116 indivíduos, entre 18 e 70 anos, moradores das cinco regiões. A maioria vive em áreas urbanas e tem pelo menos o ensino médio completo. Os brasileiros revelaram-se os mais sedentários: na Espanha, eles corresponderam a 21% dos entrevistados, e na Itália, a 33%. O Rio de Janeiro acompanhou a média da região Sudeste, onde cerca de 60% das pessoas são ativas.

— Perto do litoral, as pessoas costumam ser mais ativas. No Rio, a mentalidade do culto ao corpo ainda faz aumentar o número de pessoas que se exercitam — diz Melissa Reis, pesquisadora estatística da Proteste. — A disponibilidade de espaços e equipamentos públicos também influencia os hábitos dos brasileiros.

A pesquisa avaliou ainda o impacto da prática de exercícios na qualidade de vida, e concluiu o esperado: quanto mais atividade, mais saúde física e mental. Para Walace Monteiro, porém, os efeitos estéticos e o medo de doenças ainda são os principais estímulos para o exercício, em detrimento do prazer de realizá-lo como lazer e da consciência de sua importância para a saúde. Luiz Oswaldo Rodrigues, coordenador do doutorado em Ciências do Esporte da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), concorda:

— Do ponto de vista da evolução da espécie humana, atividade física diária deveria ser o padrão, até porque quem não faz fica doente. Porém, a espécie humana foi criada para gastar a energia necessária procurando seu alimento e guardar a restante em forma de gordura, no que se chama de princípio geral da economia de energia. Nos últimos 11 mil anos, com a civilização, a atividade física foi se tornando cada vez menos obrigatória. Hoje, a maioria das pessoas só a procura depois que leva um susto, como sofrer um infarto.

O importante, segundo médicos e preparadores físicos, é escolher uma atividade com a qual se tenha afinidade. E o estudo da Proteste mostrou que cada faixa etária tem suas preferências. Jovens de 18 a 29 anos gostam mais de musculação. Estudante de biomedicina, Juliana Cantagalli Pfisterer, de 22 anos, se encaixa neste perfil. Moradora de Copacabana, ela faz exercícios com aparelhos numa academia de três a quatro vezes por semana, além de ginástica localizada. Ocasionalmente, corre na praia.

— Comecei a musculação há quatro anos, porque sempre gostei do ambiente de academia e queria resultados estéticos rápidos. Mas, claro, também penso na saúde; me sinto muito bem com o exercício — diz.

A caminhada faz principalmente a cabeça de quem tem de 30 a 49 anos, mostrou o levantamento. E os mais velhos, com idades de 50 a 64 anos, optam prioritariamente pela ioga ou pelo pilates. É o caso de Maria Cecília Vaz, de 60 anos, que encontrou no pilates um alívio para as dores causadas por uma hérnia de disco.

Eu fazia ginástica esporadicamente, de forma errada, e acabei com uma hérnia. Dois médicos disseram que eu não poderia mais carregar bolsa nem empurrar carrinho de supermercado, e um terceiro me sugeriu RPG para fortalecer a musculatura do abdômen e a coluna — conta ela, que caminha na praia antes de ir para a academia. — Mas eu tinha ouvido falar do pilates e, com o consentimento dele, fui experimentar. Isso foi há nove anos. Comecei a fazer uma vez por semana, até aumentar para três, e, salvo pelo período em que nasceram meus netos gêmeos, nunca parei e nem pretendo parar. Deixei de senti dor.

Os especialistas dizem que mesmo quem tem problemas de saúde crônicos deve se exercitar.

— E quem quer começar deve passar por uma avaliação cardiológica, e, dependendo do caso, exames complementares. Depois, o ideal é procurar um profissional de educação física para saber com que regularidade praticar cada atividade — aconselha Newton Nunes, doutor em educação física pela USP e especialista em reabilitação cardiovascular pelo InCor.


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